Não é exagero! Realmente i-m-p-e-r-d-i-v-e-l, o show de hoje no Stereoteca. Érika Machado - poeta convidada do Pão e Poesia, fará a abertura do show da Titane, lendo dois poemas de sua autoria. Logo em seguida, Titane subirá ao palco com toda sua graça, emoção e competência de sempre, para realizar mais uma apresentação que tenho certeza, ficará na memória dos que se fizerem presenteados.
Titane conheço desde os tempos do "Projeto Fim de Tarde", que era realizado no Palácio das Artes, lá pelos idos da década de 80. Sim, tive o prazer de na adolescencia assistir Titane, interpretando belíssimamente várias canções e entre elas, uma inesquecível - Araguaia, do Ricardo Faria.
Bem, não vou ficar com muito lero-lero, porque Titane, não precisa de rasgação de seda minha. Além do mais, julgo não ter a competência necessária, para descrever o que é Titane (um instrumento vivo) em ação num palco - isso, prefiro é sentir ao vivo e em cores vibrantes, não deixando escapar mínima nota de suas cordas vocais.
Leiam abaixo texto de Israel do Vale (jornal O TEMPO), sobre o novo trabalho da Titane.
Para baixar e vestir a alma com as músicas de ANA - aqui.
Erika Machado - aqui
(Fernando Fuiza)
Titane: desconserto poético e o limiar da voz, a lumiar
Titane vem de onde não se sabe. E sabe direitinho, enovelada em dúvidas, que onde tem. Sabe de tudo nada - qual brincadeira de roda: duas pontas que começam onde se queira e terminam em lugar algum [ou em todos...]. Sabe do nada tudo - poeira ao vento, tão presente e impalpável.
Titane é a sombrinha sobre a corda bamba. O tempo e o vento do equilíbrio - abismo em suspense, tão dentro, lembaixo. É o jogo dos que se jogam, ludicamente - pero sin perder a dramaticidade. O risco em si: rabisco na parede áspera da caixa de fósforo. Foco de incêndio que não se vê nem se apaga.
Titane é uma das maiores cantoras de sua geração, Brasil afora. Uma das mais rigorosas e coerentes artistas da voz, em Gerais. Uma mulher [forte, admirável] que não se furta a compartilhar seus lemas - sob ou sobre o palco. Nem deixa, jamais, de colocar-se íntegra.
Titane é, de nascença, Ana Íris. Minimalista, intensamente. Nome de titã, olhos de lince. Guerreira alerta, veias abertas, de olho no que vem lá -seja lá onde lá for.
Um disco de Titane, Titane é. Intensamente minimalista. E este "Ana" é mais um sinal de uma grande [e generosa e paciente] cantora que aprendeu o tempo das coisas. O tempo de quem é, e não o de quem está - ou apenas quer chegar.
"Ana" ganhou pernas e saiu solta e revolta, serelépida e faceira, em volteios pela Internet - desde ontem. Pode ser encontrada de graça no quintal virtual da cantora [www.titane.com.br]. Um cacho de bananas para o mercado - este ser cego e surdo, de mil tentáculos, que vive do programável, não do inevitável.
"Ana" é um mergulho no novo, com a carga da história. Desconstrução e desconserto, desconcertante. Fiapo de música fiada em tirar, mais que impor. Um exercício de subtração plural e polifônico, em uníssono. É o resumo da síntese, consciente do que merece e precisa ficar.
Traz na algibeira o desassombro de tudo que poderia ter sido. Sem expectativas nem discursos. Sem cobranças nem rancores. É, em sua aparente despretensão, um latente retrato de época que estreita vínculos [estéticos, geracionais] com o que virá - fruto do descontrole remoto da era digital.
Titane é entrega. E sempre esteve aberta ao diálogo criativo. Basta o pujante "Sá Rainha", de 2000, seu mais recente, para ilustrar o que se diz - numa linha do tempo que vai e vem [qual rede na parede] e nem por isso perde o rumo.
"Sá Rainha" era, então, uma viagem no espaço - um passo atrás e dois à frente. Na retaguarda, desfiava vínculos com a herança afro-rural-mineira [tanto na evocação a Milton Nascimento e ao congado, como nos braços dados com Tizumba ou Pereira da Viola]. Já adiante, coletora de sotaques, mais urbana, assinava embaixo do trabalho de artistas emergentes [para o mercado, ao menos] como Chico César e Zeca Baleiro.
Lá, como aqui, forja em música um libelo calado em favor da poesia - no primeiro, movida por uma força gravitacional prenhe de Leminski, de próprio punho ou pela pena de discípulos/admiradores/cúmplices como a ex-mulher, Alice Ruiz, e o jornalista e amigo Ademir Assunção.
Muito houve antes [com destaque para "Inseto Raro", dentre os quatro primeiros rebentos] e, muitos veios depois, "Ana" atualiza e fortalece o ímpeto da cantora de querer mais - um sentimento que se manteve afastado do disco por oito anos, redirecionado que foi para projetos coletivos de outra grandeza, como o espetacular "Campo das Vertentes" [www.titane.com.br/index_.html].
"Clarear", que abre o novo disco, é uma clara demonstração de que Titane [limiar da voz, a lumiar] é seu próprio instrumento - e, quisesse, bastaria-se. "Escurecer", que o fecha, faz a voz se pôr no horizonte, ciclicamente, para tudo começar de novo.
"Ana" é um palíndromo sonoro emoldurado em poesia. Inseto raro, entrega-se como obra aberta [um origami desdobrável a quem quiser intervir, pelo site] ou obra fechada [a quem quiser preservá-la, cabo a rabo], na sucessão de enlaces oferecida por letras e arranjos, sob a sensível batuta de Renato Villaça e Rafael Martini.
No varejo, consolida também a primeira visão panorâmica da geração Reciclo Geral, um movimento que se desenhou em 2002 como marco dos novos tempos, do trabalho autoral compartilhado e da criação conjunta e colaborativa - e de onde emergiram nomes como Makely Ka, Kristoff Silva, Érika Machado, Cecília Silveira, Dudu Nicácio e Renato Villaça, para me deter aos que desfilam aqui.
"Ana" é um presente do presente. Com a sabedoria [e a delicadeza] de quem sabe que o caminho artístico é espiral. E mora além.
Israel do Vale, 40, diretor de programação e produção da Rede Minas, escreve neste espaço aos sábados. israeldovale@uol.com.br
Publicado em: 28/06/2008
Titane vem de onde não se sabe. E sabe direitinho, enovelada em dúvidas, que onde tem. Sabe de tudo nada - qual brincadeira de roda: duas pontas que começam onde se queira e terminam em lugar algum [ou em todos...]. Sabe do nada tudo - poeira ao vento, tão presente e impalpável.
Titane é a sombrinha sobre a corda bamba. O tempo e o vento do equilíbrio - abismo em suspense, tão dentro, lembaixo. É o jogo dos que se jogam, ludicamente - pero sin perder a dramaticidade. O risco em si: rabisco na parede áspera da caixa de fósforo. Foco de incêndio que não se vê nem se apaga.
Titane é uma das maiores cantoras de sua geração, Brasil afora. Uma das mais rigorosas e coerentes artistas da voz, em Gerais. Uma mulher [forte, admirável] que não se furta a compartilhar seus lemas - sob ou sobre o palco. Nem deixa, jamais, de colocar-se íntegra.
Titane é, de nascença, Ana Íris. Minimalista, intensamente. Nome de titã, olhos de lince. Guerreira alerta, veias abertas, de olho no que vem lá -seja lá onde lá for.
Um disco de Titane, Titane é. Intensamente minimalista. E este "Ana" é mais um sinal de uma grande [e generosa e paciente] cantora que aprendeu o tempo das coisas. O tempo de quem é, e não o de quem está - ou apenas quer chegar.
"Ana" ganhou pernas e saiu solta e revolta, serelépida e faceira, em volteios pela Internet - desde ontem. Pode ser encontrada de graça no quintal virtual da cantora [www.titane.com.br]. Um cacho de bananas para o mercado - este ser cego e surdo, de mil tentáculos, que vive do programável, não do inevitável.
"Ana" é um mergulho no novo, com a carga da história. Desconstrução e desconserto, desconcertante. Fiapo de música fiada em tirar, mais que impor. Um exercício de subtração plural e polifônico, em uníssono. É o resumo da síntese, consciente do que merece e precisa ficar.
Traz na algibeira o desassombro de tudo que poderia ter sido. Sem expectativas nem discursos. Sem cobranças nem rancores. É, em sua aparente despretensão, um latente retrato de época que estreita vínculos [estéticos, geracionais] com o que virá - fruto do descontrole remoto da era digital.
Titane é entrega. E sempre esteve aberta ao diálogo criativo. Basta o pujante "Sá Rainha", de 2000, seu mais recente, para ilustrar o que se diz - numa linha do tempo que vai e vem [qual rede na parede] e nem por isso perde o rumo.
"Sá Rainha" era, então, uma viagem no espaço - um passo atrás e dois à frente. Na retaguarda, desfiava vínculos com a herança afro-rural-mineira [tanto na evocação a Milton Nascimento e ao congado, como nos braços dados com Tizumba ou Pereira da Viola]. Já adiante, coletora de sotaques, mais urbana, assinava embaixo do trabalho de artistas emergentes [para o mercado, ao menos] como Chico César e Zeca Baleiro.
Lá, como aqui, forja em música um libelo calado em favor da poesia - no primeiro, movida por uma força gravitacional prenhe de Leminski, de próprio punho ou pela pena de discípulos/admiradores/cúmplices como a ex-mulher, Alice Ruiz, e o jornalista e amigo Ademir Assunção.
Muito houve antes [com destaque para "Inseto Raro", dentre os quatro primeiros rebentos] e, muitos veios depois, "Ana" atualiza e fortalece o ímpeto da cantora de querer mais - um sentimento que se manteve afastado do disco por oito anos, redirecionado que foi para projetos coletivos de outra grandeza, como o espetacular "Campo das Vertentes" [www.titane.com.br/index_.html].
"Clarear", que abre o novo disco, é uma clara demonstração de que Titane [limiar da voz, a lumiar] é seu próprio instrumento - e, quisesse, bastaria-se. "Escurecer", que o fecha, faz a voz se pôr no horizonte, ciclicamente, para tudo começar de novo.
"Ana" é um palíndromo sonoro emoldurado em poesia. Inseto raro, entrega-se como obra aberta [um origami desdobrável a quem quiser intervir, pelo site] ou obra fechada [a quem quiser preservá-la, cabo a rabo], na sucessão de enlaces oferecida por letras e arranjos, sob a sensível batuta de Renato Villaça e Rafael Martini.
No varejo, consolida também a primeira visão panorâmica da geração Reciclo Geral, um movimento que se desenhou em 2002 como marco dos novos tempos, do trabalho autoral compartilhado e da criação conjunta e colaborativa - e de onde emergiram nomes como Makely Ka, Kristoff Silva, Érika Machado, Cecília Silveira, Dudu Nicácio e Renato Villaça, para me deter aos que desfilam aqui.
"Ana" é um presente do presente. Com a sabedoria [e a delicadeza] de quem sabe que o caminho artístico é espiral. E mora além.
Israel do Vale, 40, diretor de programação e produção da Rede Minas, escreve neste espaço aos sábados. israeldovale@uol.com.br
Publicado em: 28/06/2008
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